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Suspensão de cirurgias pode comprometer tratamentos oncológicos

Adiamento de consultas e exames de rotina reduz as chances de diagnóstico precoce, quando as chances de cura são maiores

A suspensão, ainda que temporária, de cirurgias, pode representar o avanço de doenças como o câncer que, em geral, têm chances de cura muito maiores quando tratadas em estágios iniciais. Segundo o último decreto do Governo da Bahia, o prazo estipulado para retorno das cirurgias eletivas expira hoje (29/03), mas a verdade é que desde o início da pandemia do novo coronavírus (covid-19), a prioridade de atendimentos nos hospitais é de pessoas com covid-19, principalmente as com sintomas mais graves. Aproximadamente 200 cirurgias deixaram de ser realizadas por dia nos hospitais privados de Salvador, segundo a Associação de Hospitais e Serviços de Saúde da Bahia (AHSEB). Nos hospitais públicos, a situação é ainda mais complicada.

Além do decreto estadual, a falta de medicamentos também tem afetado a realização das cirurgias eletivas na Bahia. O Hospital Aristides Maltez (HAM), por exemplo, teve que suspender ou adiar diversas cirurgias oncológicas, que nem estão enquadradas como eletivas pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), pela ausência ou escassez de remédios como relaxantes musculares e anestésicos necessários para a intubação. A admissão de novos pacientes no hospital está suspensa de hoje (29) até quinta-feira (1º de abril), por esta razão.

Além da suspensão de cirurgias eletivas, o medo da contaminação pelo covid-19 tem levado muitas pessoas a evitar ou adiar consultas e exames de rotina, que ajudam no rastreamento precoce de diversas patologias. Até pacientes com sintomas iniciais de um tumor ou de outra doença têm deixado de procurar o médico, optando pela automedicação arriscada ou simplesmente adiando uma assistência que deveria ser imediata. Outras razões que explicam o adiamento de cirurgias no estado são o adoecimento das equipes e a dificuldade de transporte dos pacientes que moram no interior do estado.

As consequências do atraso nas cirurgias para a saúde são incalculáveis, mas para facilitar esta mensuração, o urologista André Costa Matos, integrante do Robótica Bahia – Assistência Multidisciplinar em Cirurgia, está desenvolvendo uma pesquisa cujo objetivo é comparar o perfil clínico dos pacientes antes e durante a pandemia, a fim de confirmar a hipótese de que os casos de câncer urológicos estão chegando já em estágios avançados da doença.

De acordo com o especialista e doutor em uro-oncologia, a pandemia do novo coronavírus trouxe grandes desafios ao sistema de saúde. “Pacientes com câncer não podem esperar a retomada da normalidade do sistema para serem tratados, sob pena da doença evoluir e se disseminar (…). Temos observado um aumento no número de pacientes que chegam com doença avançada, principalmente os tumores de próstata, rim e bexiga”, disse o médico, que atende em Salvador tanto em hospitais privados como o São Rafael e Aliança (Rede D’or) quanto no HAM e no Hospital das Clínicas (UFBA), pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo o doutor André, os pacientes que antes eram diagnosticados através de exames de rotina deixaram de aparecer nos consultórios. Muitos deles têm dificuldade de acesso ao sistema de saúde. “Esperamos que a vacinação contra a covid-19 avance e consiga conter os casos graves da doença para que tenhamos forças para evitar e combater o aumento dos casos avançados de câncer”, desejou o pesquisador, um dos atuais diretores da gestão 2020/2021 da Sociedade Brasileira de Urologia seccional Bahia (SBU-BA).

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