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Skate em contagem regressiva para a estreia nos Jogos de Tóquio

Agência Brasil

No Dia Mundial da modalidade, entrevistamos Lucas Rabelo, da seleção

Há 16 anos, praticantes de várias regiões do mundo festejam em 21 de junho o Dia Mundial do Skate. A data foi criada pela Associação Internacional de Companhias de Skate (IASC) para dar mais visibilidade a essa que é uma das modalidades mais praticadas no planeta. Aqui no Brasil, desde os primórdios –  lá nos anos de 1960 no Rio de Janeiro – até os dias atuais, a verdade é que o skate sempre teve muitos amantes.

Amor que ganhou um destaque maior ainda nos últimos anos, com a confirmação da modalidade no programa olímpico dos Jogos de Tóquio (Japão), adiados para 2021. E é justamente nesta modalidade praticada sobre rodinhas que recaem muitas das esperanças de medalhas do Brasil. Entre os 22 atletas que compõem a seleção nacional estão Pâmela Rosa, Rayssa Leal, Kevin Hoefler e Lucas Rabelo. Eles competem no estilo street (obstáculos de rua são usados para as manobras). Já Dora Varella, Isadora Pacheco, Luizinho Francisco e Pedro Barros disputam as provas do estilo park (as manobras são realizadas em pista planejada). 

Para marcar esta data especial, a Agência Brasil entrevistou o skatista cearense Lucas Rabelo, de 21 anos, que neste mês voltou a integrar a seleção brasileira. O atleta segue firme na briga por um lugar na delegação verde e amarela na Olimpíada de Tóquio, no ano que vem.

Agência Brasil – O que o skate representa para você? A modalidade ganhou ainda mais destaque nesse ciclo que marca a estreia do olímpica do skate?

Lucas Rabelo – O Skate é a minha vida. Foi com ele que eu consegui me manter sempre no caminho do bem e chegar até aqui. Hoje, o skate é a minha profissão. Ficou mais sério. Mas nunca deixou de ser uma diversão. Pra mim, andar de skate em qualquer lugar do mundo é como voltar a andar lá no Pirambú com meus amigos. O dia Mundial do Skate representa aqueles que de alguma forma foram e são salvos pelo skate todos os dias no mundo inteiro. Estarmos na Olimpíada com o skate é algo que nunca imaginei. Ainda não deu pra assimilar muito bem o que isso representa, mas eu sei que quero estar lá.

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O cearense Lucas Rabelo briga pela vaga olímpica para representar o Brasil, no estrilo street, nos Jogos de Tóquio, no ano que vem  – Júlio Detefon/Oi STU Open/Direitos reservados

Agência Brasil – Pode falar um pouco para o público da Agência Brasil quem é o Lucas? Como começou no skate e quais momentos e resultados considera mais marcantes até aqui?

Rabelo – Eu comecei a andar de skate em Fortaleza (CE), no bairro Pirambú. Meus amigos todos andavam de skate na frente da minha casa e eu era um dos poucos que não andava, então eu decidi começar para estar mais perto deles. Com 13 anos, saí de casa em Fortaleza e fui morar na casa do Rafinha [Rafael Xavier da Costa, empresário do atleta] e da família dele em Porto Alegre. Moro com eles até hoje, e hoje são minha família também. O skate me deu isso também, tenho duas famílias, sou privilegiado.  Tem muitos momentos marcantes, mas um deles foi quando  machuquei o joelho pela segunda vez na final do SLS [Street League Skateboarding] em São Paulo. Lembro que na hora, enquanto faziam exames na maca, muita gente dizia que eu provavelmente teria que fazer cirurgia, e eu sabia que se isso acontecesse o sonho de ir para a Olimpíada estaria acabado. Eu estava em choque. Não conseguia acreditar naquilo. Voltei no outro dia pra casa em Porto Alegre sem saber o que ia acontecer. O Rafinha e a Cris [Cristiane Pinheiro da Silveira, esposa do Rafinha] só repetiam: ‘vamos dar um jeito’. E, menos de dois meses depois, eu tinha um campeonato super importante, que estava valendo pontuação para as Olimpíadas também. Foi então que fizemos exames e com o suporte dos médicos e toda a equipe da CBSk {Confederação Brasileira de Skate] e do Care Club [clínica médica esportiva], fizemos um tratamento intensivo durante 30 dias, sem parar. Só voltei a andar de skate duas semanas antes da competição, mas eu queria tanto que desse certo, que aquilo me deu muita confiança. Eu sabia que poderia ir bem. E fui! Lembro como se fosse hoje: precisava acertar a última manobra. Aí tinha uma dúvida se eu poderia repetir uma que eu havia errado. Fui falar com o Rafinha e um monte de gente ficava falando e gritando na arquibancada tentando incentivar, e já era minha vez. Lembro do Rafinha falar: vai lá e acerta. Só isso. Eu fui e acertei! Lembro de sentir um silêncio e depois uma explosão, o narrador e galera gritando muito. A nota demorou muito pra sair. Pois precisava de uma nota alta. E deu certo, depois de achar que estava tudo perdido, com duas semanas de skate, fiquei em terceiro lugar. Foi uma sensação incrível poder disputar um evento mundial tão grande e ficar no pódio com os melhores skatistas do mundo.

Agência Brasil – Como está sendo o retorno à seleção? É um reflexo dos teus bons resultados e de um esforço também da CBSk para manter a estrutura oferecida a vocês?

Rabelo – Estou muito feliz com o meu retorno. Eu fazia parte no início, mas acabei tendo uma lesão e fiquei fora da zona de classificação. Logo que me recuperei, voltei a ter bons resultados e agora fui chamado de novo. O suporte da CBSK é muito importante para todos nós.

Agência Brasil – Como está sendo esse período de pandemia de covid-19? Você está treinando em Porto Alegre?

Rabelo – Para falar a verdade, tá sendo difícil não poder sair para andar de skate na rua ou em lugares abertos. Mas o Rafinha e toda família estão me ajudando manter a calma e continuar focado. Estou aqui em Porto alegre. Continuo andando de skate em uma pista privada de amigos e também fazendo treinamento funcional. Mas sozinho é bem difícil. 

Agência Brasil – Acaba sendo uma mistura de sentimentos, né? O adiamento pode ter sido ruim, mas abriu outras chance para vocês brigarem pelas vagas olímpicas, não?

Rabelo – Na verdade, o adiamento me deixou ansioso, porque eu estava me sentindo pronto para as próximas etapas, mas de certa forma, esse tempo está me ajudando a pensar mais, lembrar dos meus erros e me preparar cada vez mais para os próximos eventos. Numa competição deste nível, muito do resultado está na cabeça.

Agência Brasil – Como foi a tua saída de Fortaleza para Porto Alegre? O que foi mais complicado em cruzar praticamente todo o país?

Rabelo – A primeira vez que eu vim para Porto Alegre eu tinha 12 anos. Uns amigos fizeram a ponte e eu fiquei em um lugar onde não me adaptei. Foi um choque. O frio, os horários, as comidas e o estilo de vida. Então foi difícil e eu fui embora antes. Ia ficar um mês e fiquei somente uma semana. Mas, na segunda vez, com 13 anos eu vim para ficar na casa do meu empresário e foi tudo diferente. Eles me tratavam como uma pessoa da família, mesmo eu estando lá apenas por alguns dias. Eu tinha todo o suporte dele e da família. Ia ficar algumas semanas e acabei ficando meses. Na verdade nunca mais voltei de vez para Fortaleza. Pois assim que eu me juntei a eles, morar em Porto Alegre não foi mais um problema e sim uma oportunidade para eu alcançar meus sonhos e objetivos.

Agência Brasil – Você passou por um momento difícil com a perda do seu pai. Foi complicado seguir no skate? Esse fato te impactou mais dentro ou fora do esporte?

Rabelo – Eu perdi meu pai quando eu era super novo, eu não lembro de muitas coisas. Mas sei que ele andava de skate e me diziam que ele tinha um sonho de ser skatista profissional. Isso também me motivou no início. Hoje estou vivendo o meu sonho e está cada vez mais perto de se tornar realidade. E eu acredito que tudo que eu faço hoje, para mim, estou fazendo para minha família toda e para os meus amigos. Todos aqueles que estiveram comigo e que mesmo de longe continuam torcendo por mim.

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