CidadesEntretenimento

Cidade de Senhor do Bonfim é reconhecida como capital baiana do forró

Durante o mês de junho, toda a cidade se movimenta e há uma série de manifestações culturais

Senhor do Bonfim é uma cidade que leva São João a sério. Não à toa, é reconhecida (e se reconhece) como a Capital Baiana do Forró. Mas se engana quem pensa que essa seriedade faz as coisas se tornarem sisudas, rígidas. Pelo contrário: é tudo natural. Quanto mais perto de junho se vai chegando, mais o ar vai mudando, o ritmo fica dengoso e explodem manifestações culturais por todos os cantos da cidade e nas veias dos pouco mais de 74 mil habitantes estimados pelo IBGE.

O São João em Senhor do Bonfim é, acima de tudo, diverso. Vai além das festas na praça. Entra nos bairros com seus trios forrozeiros, vai entrando de casa em casa. Uma tradição que começou há pouco mais de um século nas manifestações que sucediam a Trezena de Santo Antônio.

Quem conta essa história é o pesquisador Alex Barbosa, entusiasta do município que há mais de meia década, que pesquisa e divulga a história de Bonfim no Instagram @minhacidade_bonfim. “As Trezenas foram atraindo e estimulando a criação de outras manifestações culturais como as alvoradas e as bandas de pífano. Tudo isso entre as décadas de 1920 e 1930”, relembra.

Na década seguinte, novas atrizes entraram em cena durante o período junino: as cantadeiras de roda. Mulheres negras, a maioria lavadeiras de roupas, que se juntavam em grupos de canto que percorriam os bairros da cidade durante as festas de Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal.

“Elas saíam cantando nas casas dos patrões de quem elas lavavam roupa. Os patrões davam em troca comida e a abertura das casas. Foi daí que nasceu uma tradição muito importante aqui que é o ‘De casa em Casa’, que basicamente é um momento em que as pessoas vão entrando nas casas dos outros tocando forró, perguntando se tem licor e se São João passou por lá”, conta. 

Esses eventos saíam basicamente das periferias. Bairros como Pernambuquinho, Bandeira e Gamboa foram muito importantes para cultivar essas tradições juninas na cidade.

A festa popular chamou atenção das elites da cidade e nos anos 1950 os mais ricos começaram a promover festas em clubes. As festas aconteciam durante a noite e os mais pobres aproveitaram para fazer uma grana com isso colocando barracas do lado de fora que serviam como uma espécie de esquenta para os eventos fechados que aconteciam mais tardes.

“É algo muito semelhante ao carnaval de Salvador. Já nos anos 1960, uma turma mais jovem colocou as barracas e aí veio sanfoneiro, trio forrozeiro e isso foi fazendo sucesso. Tanto que na década seguinte a Prefeitura começou a apoiar tudo isso e colocou um palco na Praça Nova”, entende Barbosa.

Essa entrada da Prefeitura marca o início do que se conhece como o São João de Bonfim. A festa continuou por lá até 2008, depois disso se mudou para o Espaço Gonzagão por conta da quantidade de pessoas que participava da festa, vindo de outras cidades e até estados. 

O Rei do Baião foi uma das grandes atrações que passou pelo São João de Bonfim. Ele fez uma apresentação na cidade em 1985, no centenário do município. A festa aconteceu entre os dias 15 e 26 de junho. A Praça Nova se transformou no Arraial Tapera, recebendo em seu palco, além de Luiz Gonzaga, nomes como Dominguinhos, Oswaldinho do Acordeon e Assisão.

Nessa época, Bonfim já era conhecida como a Capital Baiana do Forró. Vários compositores colocavam em seus versos que a cidade era onde havia 30 dias de Forró. 

“Eu acho que a alcunha e a força do São João de Bonfim se deve ao bonfinense. A participação do povo é muito grande e fez essa fama se expandir. É o povo daqui quem faz o São João tão grande. Eu digo que os artistas renomados vêm para cá não para fazer o São João de Bonfim grande, mas sim porque a festa junina da cidade é enome”, diz o pesquisador.

Secretário de Cultura no município, Jailson Oliveira corrobora com a afirmação. De fato, o São João é fundamental não apenas para a cultura, mas também para a economia de toda a região. O titular da pasta estima que cerca de R$160 milhões deixaram de circular na cidade somente nos meses de junho de 2020 e 2021 por conta da pandemia do coronavírus. 

“A cidade toda abraça muito o período. A festa é cultural, comercial, é muito importante para a vida das pessoas mesmo. Negócios, serviços, há uma movimentação de mais de 800 mil pessoas aqui na região. A prefeitura investe de R$ 2 a 2,5 milhões para ter uma movimentação de R$ 15 a 18 milhões nesse período junino. É um momento único e o principal momento econômico da nossa região”, afirma. 

Forró do Sfrega
A força das manifestações populares levou o São João de Bonfim a ter reconhecimento. Ponto. No entanto, um outro fator também contribuiu para atrair olhares à cidade: o Forró do Sfrega, festa privada que acontece desde 2000. Idealizador e produtor da festa, Paulinho Sfrega diz que o evento nasceu pensando em aumentar ainda mais o São João de Bonfim. 

“A festa na praça acontece mais durante a noite e a gente percebeu que tinha turista que chegava, ficava esperando um tempão até a noite e encaixamos o Sfrega justamente aí. É uma festa que começa de tarde, termina às 21h e aí o público aproveita e já sai para as atividades da própria cidade”, diz Paulinho.

O Sfrega costuma ter três dias de programação. Paulinho diz que o evento abre espaço para todo o tipo de artista mas preza que um dia seja exclusivamente voltado para o forró. “São os forrozeiros e as forrozeiras quem fizeram o São João. É essa a festa que eu me apaixonei por isso é importante ter um dia assim, bem raiz”, explica. 

De acordo com Paulinho, o Sfrega é somente mais uma ferramenta de fomento ao São João da cidade. “O Sfrega é minúsculo quando comparado à tradição junina na cidade. Antes mesmo da festa nascer, Bonfim já recebia 80 mil pessoas nesse período”, afirma. 

Guerra de espadas
Quando se fala em espada, automaticamente é a cidade de Cruz das Almas quem vem à mente. É justo. Mas também é justo lembrar que Bonfim é uma cidade fortíssima nesse quesito também. Os primeiros registros datam de que desde os anos 1930 há guerra de espadas na cidade e é uma tradição que passa de pai para filho.

O antropólogo Rodrigo Wanderley discorda, inclusive, do termo guerra e prefere se referir à tradição de espadas como uma festa. “Não é guerra. É algo que ninguém mata e morre. Quem participa são irmãos, compadres, amigos, que se encontram um único dia no crepúsculo, quando o sol descansa “, defende. 

Alex Barbosa afirma que as tradições juninas em Bonfim são encantadoras porque se misturam entre si. No caso das espadas, há uma relação muito forte com o De Casa em Casa. Após a guerra, ou festa, é comum as pessoas saírem em busca de uma mesa ou de um trio forrozeiro nos bairros para comer, beber e seguir os festejos juninos.

Correio 24 Horas

google newa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo