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Pandemia acelera importância da educação financeira em crianças

Famílias devem tratar questões financeiras com clareza e honestidade, adequando o tom à idade da criança

Aos 10 anos de idade, a pequena Maria Luiza “Malu” Chaves já compreende alguns fatores relacionados ao momento de pandemia e distanciamento social. A exemplo da necessidade no uso das máscaras, permanência em casa, adiamento de viagens em família, cancelamento de festas, poucos presentes e a realização das aulas sob o ensino à distância (EAD).

Embora esperta, Malu acabou tendo seu comportamento afetado pela nova rotina, assim como o restante da família, segundo seu irmão mais velho, Josimar Pacheco Chaves, 19. “Às vezes ela precisa de mais atenção e busca novas formas de se entreter dentro de casa, como também faz pedidos para sair, seja ao mercado ou à farmácia, mesmo tendo conhecimento que não é o correto e que a sua presença não se faz necessária. Tentamos ao máximo simplificar a forma que explicamos as coisas para ela entender o cenário atual. Além disso, a estrutura financeira da nossa casa não foi intensamente afetada pela pandemia, trazendo um conforto maior para ela e nossa família nesse momento tão difícil”, relata.

A história de Malu pode ser considerado uma exceção entre as reduções econômicas apresentadas pelas famílias brasileiras em razão da pandemia. De acordo com a pesquisa “Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes”, realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), 55% dos brasileiros observaram uma diminuição no rendimento domiciliar na crise, entretanto, o índice apresenta maior incidência entre famílias com menores de até 17 anos, chegando até 63%.

Para o psicólogo clínico e fundador do “Viver — Instituto de Habilidades Para Vida”, Bruno César Sousa, é importante explicar para as crianças, sem exceção, a situação econômica da família com clareza e honestidade. O profissional afirma que a educação financeira é crucial nesse momento, portanto, a orientação é de que os pais adequem a linguagem pela faixa etária da criança, podendo usar literatura e filmes para ajudar a explicar perdas e transformações que ocorrem dentro do âmbito familiar e no mundo exterior.

“Os pais devem sempre explicar o porquê dos cancelamentos e das perdas que estão acontecendo, independente da condição financeira, trazendo à tona o sentimento dos adultos envolvidos nesse processo e ajustando as expectativas de acordo com as novas possibilidades de renda. Esse processo protege a criança de lidar com frustrações e dúvidas sobre o que realmente está se desenrolando. É comum ouvir relatos de pais que falam sobre escassez em um dia e no outro compram presentes. Esse tipo de inconstância pode ser muito prejudicial”, elucida.

Bruno explica que o processo de educação financeira passa, primeiramente, por uma observação contínua do comportamento dos pais, a partir dos valores transmitidos desde cedo sobre dinheiro e trabalho. Segundo o psicólogo, existem falas automáticas que moldam o pensamento infantil para o trabalho como algo negativo, a ser festejado quando não ocorre ou visto como um sacrifício suportado ao longo da semana em troca de um fim de semana livre.

“As famílias não discutem ou não desenvolvem habilidades comuns a profissionais bem sucedidos. Essa lógica é idêntica ao dinheiro. A criança assimila uma relação de expectativa com ganhar muito dinheiro, e raramente de produzir muito dinheiro. São os sonhos da Mega-Sena, herança ou achar dinheiro. Nessa lógica, o dinheiro é algo relativamente estranho ou uma consequência de trabalhos carregados de conotações negativas”, afirma.

Considerando o relacionamento monetário uma habilidade essencial na vida, o profissional explica que o trabalho realizado no “Instituto Viver” — localizado no bairro do Stiep (BA) —, auxilia famílias a dialogarem com seus filhos sobre o momento vivido, incluindo temáticas complexas como dificuldades socioeconômicas.

“Se olharmos ditados populares clássicos, veremos os valores que estão impregnados na cultura, por isso a importância da educação financeira desde a base; e o ‘Viver’ ensina isso. A pandemia, por um lado, virou propulsora dessa prática, já que os pais estão precisando ter essa conversa mais sincera com os pequenos para evitar desavenças na família ou fora dela. É preciso cada vez mais a construção desse diálogo sincero para tratarmos de temas delicados com os pequenos”, conclui.

Para mais informações sobre o Instituto Viver, acesse www.habilidadesparavida.com.br ou a página do Instagram @habilidadesparavida.

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