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O “caso Farol da Barra” Joga Luz sobre a segurança pública, polícia e outras questões

Coluna de Odemar Lúcio

O ASSASSINATO do PM Wesley Soares Góes no caso do Farol da Barra em Salvador na noite de ontem (28), diz muito sobre a polícia baiana, uma das que mata no Brasil – sem nos esquecermos da polícia brasileira como um todo, em dados, uma das mais violenta do mundo. Uma polícia que se dizendo política de segurança pública não oferece SEGURANÇA. O que a polícia fez com o policial é apenas, não querendo ser reducionista, uma amostra grátis do que a polícia faz ao adentrar nas comunidades, ao encontrar jovens negros voltando do rolê, ao fazer suas ditas “abordagens padrões” – carregadas de filtragem racial.

A polícia brasileira surge nas pesquisas como a que mais mata e mais morre no mundo inteiro. Algo não está certo! Não se pode achar natural ver homens e mulheres matando e sendo mortos por uma guerra patrocinada por quem nem sequer sai de suas salas climatizadas e seus carros blindados, homens e mulheres tombando diariamente e sendo trocados por outros de modo descartável em ambos os lados da força.

Os modos operandi da polícia brasileira não é outro se não aquele visto ontem ao vivo nas telas das TVs, sem filtros, em pleno horário nobre e num ponto turístico mundialmente conhecido. AÍ eu lhe conduzo a um raciocínio inevitável: Se assim o fizeram com um policial negro, fardado, transmitindo em tempo real em rede nacional imagine com os que não são policiais? E ainda mais, cobertos pela invisibilidade das comunidades e pela permissibilidade de parte da sociedade que endossa esse tipo de conduta. Observe que a justificativa padrão vista nos jornais sempre que morre alguém numa ação policial se manteve: “Os policiais foram recebidos a bala e ao revidarem um homem foi morto”.

É como diz a professora e pesquisadora Chirlene Pereira: “A polícia é preparada pra matar!”. Sim, ao contrario do que muitos tem dito, a polícia não é despreparada, ela é efetiva em sua estratégia necropolítica. A polícia não tem sido preparada para intervir na violência e resguardar vidas, tem sido máquina de executar pessoas, “a absoluta maioria negros, que tem suas vidas tomadas sem consequência penal para quem apertou o gatilho. Quando esse alguém é quem deveria nos proteger, torna essa tragédia ainda mais insensata”, disse o deputado federal Jorge Solla numa postagem sobre a morte de uma criança de nove anos de idade supostamente pela polícia no Vale das Pedrinhas em Salvador neste ultimo final de semana – morte essa que não teve a atenção devida pela mídia e pelos cidadãos de modo geral, diga- se de passagem!

Quanto a mídia, vejo ridicularizando o adoecimento da pessoa do PM, minimizando a morte do mesmo através da narrativa de que “ele estava SURTADO” – como se portadores de “distúrbios mentais” pudessem ser executados sem remorso algum –, culpabilizando a vítima e passando pano para possíveis outras análises que certas ou equivocadas precisam ser pautadas. A sociedade brasileira precisa romper com o preconceito e os estigmas em torno das patologias psíquicas. Emocionalmente falando, o mundo está doente e negligenciar isso pode se configurar como o maior dos genocídios que o mundo presenciará.

Finalizo, sem vaidade alguma de sugerir verdades, apenas expondo minha opinião que mesmo tentando não conseguir me manter calado, visto a inevitável comoção causada em cada um de nós. Como humanista, pontuo que quando mantendo o histórico de vir a publico questionar e criticar ações desastradas de policiais é justamente preocupado com a possibilidade de que passemos a achar natural a truculência, o excesso de força por tantas vezes encontradas nestes agentes, porque quando achamos normal que isso aconteça com outros acabamos por dar margem que isso se torne um padrão e então seremos cumplices em desfechos como o de Wesley, policial e pessoa humana.

Lamentando o acontecido, deixo minhas condolências aos amigos, colegas de farda e familiares do PM Wesley Soares Góes.

Odemar Lúcio é Graduado em Serviço Social; Pós-graduando em História e Cultura Afro-Brasileira; Ativista Social, Poeta e Escritor.

Odemar Lúcio

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