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Não, o que estamos vivendo não é home office (e nem trabalho remoto)

Deives Rezende Filho, especialista em diversidade e inclusão e fundador da Condurú, explica “a falácia” do novo método de trabalho imposto durante a pandemia

Em março de 2020, a vida de grande parte dos trabalhadores mudou com a chegada da pandemia do COVID-19. O distanciamento social necessário para conter a propagação do vírus forçou milhares de pessoas a ficarem em casa e, consequentemente, se adaptarem ao trabalho remoto, que além de ser compartilhado com os demais moradores da residência, precisou se conciliar com os barulhos da rua, dos vizinhos e até mesmo dos pets. O grande problema é que o estamos vivendo não momento não pode ser chamado de “home office”. 

Para entender a questão, é preciso saber que, entre as principais premissas desse tipo de trabalho estão: um escritório adaptado em casa (com todos os recursos necessários para o conforto e bem estar após horas de jornada de trabalho), um ambiente com todos os recursos tecnológicos e ferramentas para a execução das tarefas e, claro, ter disciplina para lidar com o horários de início de final do dia de trabalho. 

Trabalhar diretamente do “conforto” do lar nas condições atuais de quarentena – afinal, ainda há um vírus lá fora que mata cerca de 1700 brasileiros por dia – é muito diferente do que os trabalhadores remotos estão acostumados. Deives Rezende Filho, especialista em ética, diversidade e inclusão e fundador da Condurú Consultoria, explica que o trabalho remoto vai muito além de oferecer um notebook e um VPN aos colaboradores.

“O que estamos vivendo não é home office, assim como o que nossas crianças estão tendo não é ensino à distância. Para que a prática aconteça, é preciso levar em conta muitos outros fatores, como a segurança do acesso, as ferramentas corretas, as aplicações necessárias, o treinamento aos trabalhadores e aos gestores, que devem ser os responsáveis por transmitir os processos corretos aos demais”, diz. 

Um dos fatores que torna a adaptação a esse novo modo de trabalho complicado é o fator social, que é extremamente necessário para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Durante uma crise sanitária, é muito mais difícil se concentrar no trabalho e ser produtivo. De acordo com uma pesquisa da Harvard Business School, houve um aumento de 8,3% no número de e-mails enviados após o horário comercial desde o início da pandemia. 

O que querem os trabalhadores? 

Um levantamento da Fundação Instituto de Administração (FIA) aponta que 70% das pessoas gostariam de permanecer em regime de trabalho remoto. Para Deives, isso é resultado de uma adaptação, que continua em processo, após mais de um ano das restrições impostas pelo coronavírus.

“O futuro é remoto, não há dúvidas disso. Se podemos tirar algo de bom desse momento, é que empresas e funcionários estão tendo a oportunidade de experimentar essa nova modalidade de trabalho. Mas temos que começar a colocar balanço nessa equação. Os trabalhadores precisam ter seus horários respeitados e ter tempo para cuidar dos vários pratinhos que todos seguram, inclusive com tempo para olhar para si mesmo e para sua saúde mental”, afirma. Conversar com os colaboradores e entender a situação de cada um é fundamental para que todos sejam atendidos em suas necessidades. 

“A grande questão que fica é: estamos trabalhando mais e não sabemos se realmente estamos produzindo mais. E o pior, com a qualidade que gostaríamos de estar entregando para nós mesmos e os outros. Além disso, a falta de contato físico, dificulta muitas vezes a comunicação entre as equipes. Não sabemos ainda, pelo menos nós, brasileiros(as), quando poderemos voltar às reuniões presenciais e escritórios cheios. Mas temos certeza de que enquanto esse momento não chega, temos que cuidar não só dos nossos negócios, equipes, familiares e amigos, mas sobretudo da nossa saúde mental. Pois se tem algo que esse mundo online põe à prova é a nossa mente”, finaliza o fundador da Condurú.

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