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Insetos no cardápio: pesquisa na Uesb investiga o uso desses animais como alimento

Já pensou em saborear uns insetinhos fritos, refogados ou até assados? Acredite ou não, comer insetos é uma prática comum e apreciada em várias partes do mundo. Desde os tempos das cavernas, esses pequenos seres têm sido petiscos populares. Gregos, Romanos, e até figuras bíblicas e do Alcorão já se deliciaram com essas iguarias. Inclusive, são excelentes fontes de alimentos não convencionais nutritivos e sustentáveis.

Nesse sentido, está em andamento no Programa de Pós-graduação em Engenharia e Ciências de Alimentos (PPGCal), campus de Itapetinga, a pesquisa intitulada “Avaliação nutricional, tecnológica e aplicação da farinha de inseto comestível”, sob orientação da professora Cristiane Veloso. A doutoranda responsável pela pesquisa, Carlinne Guimarães, garante que são bem saborosos e que todos aqueles que se dispuseram a experimentar acharam o sabor bom ou neutro. 

O objeto de estudo de Carlinne é a larva de Tenébrio gigante, um besouro nativo no Brasil e América, que é muito utilizado como alimento por aves, peixes e outros animais. Embora esse inseto seja comumente criado no Brasil para alimentação animal, não existem ainda protocolos técnicos sobre sua criação, abate e processamento.

O trabalho objetiva investigar como o tipo de abate e as temperaturas de secagem utilizadas influenciam a qualidade do Tenébrio com relação ao seu valor nutricional, segurança microbiológica e características para aplicação na indústria. “As pesquisas ainda não foram finalizadas, mas alguns resultados preliminares já mostram que o tipo de abate e a temperatura de secagem afetam o teor de proteína, de antioxidantes e a qualidade microbiológica”, frisa Carlinne. 

A segunda fase da pesquisa, que inclui o desenvolvimento de um produto utilizando farinha de Tenébrio gigante, será realizada no futuro. Nessa etapa, será conduzida uma análise sensorial, na qual os consumidores participantes experimentarão os produtos voluntariamente e atribuirão uma nota para expressar seu nível de satisfação.

A pesquisadora destaca a disposição das pessoas em consumir insetos em alimentos industrializados e ressalta a importância de estudos para garantir a segurança, qualidade e atratividade desses produtos. Além disso, a Carlinne salienta que o Brasil ainda não tem regulamentação para a comercialização desses animais na alimentação humana e destaca a importância de pesquisas como a que desenvolve  para embasar a criação de normas seguras para os consumidores.

Carlinne salienta que falar sobre os insetos ajuda a superar tabus alimentares, visto que no Brasil ainda há algum consumo desses animais, herança dos povos indígenas. “Aqui na Bahia a farofa de formiga tanajura e a larva do coco licuri são muito apreciadas, e extremamente nutritivas. Mas, muita gente tem até vergonha de dizer que come em função do preconceito. Popularizar o consumo de insetos é também resgatar e valorizar a cultura dos nossos povos originários e voltar a trazer mais diversidade alimentar para o prato do brasileiro”, salienta a doutoranda.

Guimarães destaca que parte do ocidente deixou de consumir esses animais por conta do avanço da agricultura, associando-os a pragas. “O que não é verdade, pois somente 0,5% das espécies traz algum dano aos seres humanos. Hoje os insetos se mantêm como alimentos tradicional de muitos povos (no México, China, África, Tailândia, etc), outros países estão produzindo como alimento industrializado ou gourmet (Bélgica, Dinamarca, Alemanha, França, EUA, etc.), mas o preconceito ainda impede que mais pessoas se beneficiem dessa fonte alimentar”, esclarece. 

É importante salientar que o modelo convencional de produção e consumo de alimentos tem gerado impactos negativos no meio ambiente e na saúde da população. Segundo Carlinne, os insetos podem conter até 70% de proteína, sendo totalmente aproveitados como alimento. Além disso, possuem gorduras boas, como ômega 3, são uma fonte rica em fibras e minerais como cálcio e ferro. Em contraste, a carne bovina possui 22% de proteína e apenas 50% do corpo do animal é consumível como alimento. 

Ainda conforme a pesquisadora, para produzir insetos, não é necessário desmatar, pois podem ser criados em caixas dentro de um pequeno galpão. Ademais, não demandam muita água, não emitem gases de efeito estufa e a poluição por amônia é mínima se comparada a outras criações, como a suína.  “Os insetos comestíveis são limpos e seguros, pois são livres de agentes que causam doenças em humanos. Como em qualquer outro alimento do nosso dia a dia, só haverá risco de contaminação se não houver cuidados com a sua obtenção e manipulação”, sublinha Carlinne.

Pesquisa no exterior – Parte desta pesquisa será conduzida na Universidade Técnica da Dinamarca (DTU), por meio do Programa de Doutorado Sanduíche da Uesb. A Dinamarca é reconhecida como um dos países ocidentais pioneiros na produção e estudo de insetos comestíveis, destacando-se por abrigar diversas startups e eventos sobre o tema, além de chefs experientes em receitas com essas iguarias. A DTU realiza pesquisas que empregam métodos biotecnológicos ecologicamente sustentáveis para extrair frações de alto valor, como proteínas, quitina e ácidos graxos, desses bichinhos. “Em colaboração com os pesquisadores da Dinamarca, irei pesquisar o emprego de tecnologias verdes, como ultrassom, campo elétrico pulsado e uso de enzimas, para otimizar as propriedades das proteínas do tenébrio gigante”, pontua Carlinne.

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