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Fimose é preciso operar e o urologista Dr. Leonardo Calazans conta tudo

Questões fisiológicas, mas também culturais e religiosas, podem justificar cirurgia

A higienização do pênis deve ser realizada diariamente desde os primeiros dias de vida de um bebê para evitar infecções, odores e até o câncer de pênis. Contudo, esta limpeza pode não ser bem feita enquanto o menino apresenta fimose, ou seja, quando o prepúcio, pele que recobre o pênis, impede que a cabeça do órgão (glande) seja exposta. Se necessário, o tratamento da fimose em crianças menores de dois anos pode ser feito por meio de pomadas à base de corticoides, que podem ajudar a soltar a pele aos poucos. Quando elas não funcionam, os urologistas costumam indicar a cirurgia de postectomia ou circuncisão, cujo objetivo é remover o prepúcio.

Este procedimento também costuma ser realizado em várias partes do mundo por aspectos culturais ligados à família e até por motivos religiosos. Os judeus, por exemplo, fazem a circuncisão ao nascer por questões relacionadas à fé. Na África, o procedimento é feito assim que o bebê nasce para evitar a contaminação pelo HIV/AIDS. Nos Estados Unidos, por questões de política de saúde, quase todos os homens são circuncidados.

Praticamente 100% das crianças nascem com fimose fisiológica, mas à medida que o bebê cresce, a retração do prepúcio acontece naturalmente. Pelo menos, isso é o que acontece com a maioria. Quando a fimose não se resolve – naturalmente ou através de um tratamento medicamentoso ou cirúrgico, ela não só dificulta a higiene do órgão como também pode reduzir o jato urinário; causar dor, sangramento e retenção ao urinar; desencadear infecções da mucosa que reveste a glande (balanopostite), entre outros problemas. 

Segundo o Ministério da Saúde, aos seis meses de idade, 20% das crianças já apresentam o prepúcio retrátil, aos três anos, cerca de 50% já o retraem facilmente e aos 17 anos, isso acontece em 99% dos meninos. De maneira complementar a esses dados, o urologista pediátrico Leonardo Calazans afirma que após o primeiro ano de vida, 70% dos garotos ainda têm fimose; até o terceiro ano, este número se reduz para 30 a 40%; e, após o sétimo ano de vida, 20% ainda têm algum grau de fimose. 

“Esta fimose fisiológica ou congênita é a mais comum, mas existe também a fimose adquirida, que está associada à retração prepucial forçada ou repetida no sentido de se expor a glande. Esta forma de retração não é recomendada, inclusive porque pode gerar problemas como infecções urinárias e balanopostites de repetição, sem falar em potenciais prejuízos psicológicos”, destaca o especialista. 

Fisiologia – As indicações cirúrgicas clássicas do ponto de vista estritamente fisiológico estão relacionadas a infecções urinárias de repetição, a alguma malformação do trato urinário que favoreça o surgimento de infecções mais graves, inflamações no prepúcio ou na glande (balanopostites) ou ocorrência de jato urinário reduzido em decorrência da fimose. “Quando há qualquer um desses problemas, a cirurgia é feita o quanto antes. Já quando o problema se restringe à dificuldade de higienização do pênis, esperamos o desfralde da criança, para fazer a cirurgia com mais tranquilidade. Quando a adolescência chega, dificuldades para expor a glande e higienizar o pênis podem se somar à dificuldade para iniciar ou manter a ereção durante a masturbação ou relação sexual, fato que também pode justificar a necessidade da cirurgia”, explicou Leonardo Calasans.

Homens circuncidados apresentam menor risco de terem câncer peniano. Todavia, é bom destacar que esta doença é rara (cerca de 1 caso a cada 100 mil pessoas). Este benefício só existe quando a circuncisão é feita ainda na infância. Homens circuncidados após a adolescência não apresentam taxas menores de câncer de pênis. Homens não circuncidados apresentam maior risco de contaminação e transmissão do HPV e de outras infecções sexualmente transmissíveis como a AIDS e a tricomoníase. 

Quando a advogada Maria da Luz Carvalho (29), mãe de Gabriel (2), procurou o urologista Leonardo Calazans para avaliar o seu filho, considerou todos esses aspectos. Ela conta que, além da dificuldade de higienizar o pênis, o menino sentia incômodo na hora de lavar a região. “Nem chegamos a tentar tratamento clínico porque meu filho já não tinha mais indicação de usar pomada. A única solução seria a cirurgia que, felizmente, foi tranquila, com recuperação excelente. Além da higienização ser feita com mais facilidade depois do procedimento, as coceiras no pênis cessaram e o jato urinário foi normalizado”, comemorou.

Cirurgia – Em pacientes adultos, a cirurgia de circuncisão é realizada com anestesia local através de bloqueio peniano e, em crianças, o procedimento é melhor realizado sob anestesia geral. A cirurgia, que demora cerca de 20 a 30 minutos apenas, é bem simples. Se a família optar pelo procedimento por motivos culturais ou religiosos, ele deve ser realizado preferencialmente no período neonatal. 

Algumas pessoas contrárias à circuncisão sem indicação médica usam como argumento o risco de redução da sensibilidade do pênis. Todavia, apesar da lógica por trás desta teoria, na prática, homens circuncidados não apresentam uma satisfação menor na vida sexual. Existem relatos pessoais de diminuição da sensibilidade, porém, há também trabalhos científicos com grandes grupos que mostram ausência de alterações na qualidade do sexo. A posição da maioria das entidades médicas é de não indicar a circuncisão sem motivo claro. Entretanto, não há contraindicações à sua realização por motivos pessoais ou religiosos.

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