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Cuidados urológicos na infância evitam problemas em adultos

O movimento “Novembro Azul”, que segue a todo o vapor até o final deste mês como alerta de prevenção das doenças urológicas que mais acometem os homens, também chama a atenção da sociedade sobre os cuidados que precisam ser adotados desde a primeira infância até a adolescência nos meninos para preservação da saúde no presente e no futuro. Problemas como fimose, testículos retidos (criptorquidia), infecções penianas e urinárias, dilatações do trato urinário e enurese (xixi na cama) são comuns nos primeiros anos de vida e precisam ser diagnosticados e tratados adequadamente, para evitar alguns tipos de câncer, perda da função renal, infertilidade e outras consequências da falta deste cuidado.

Quando o urologista pediátrico orienta os pais ou a própria criança – quando esta já toma banho sozinha – em relação à higienização correta do pênis, por exemplo, ele está ajudando a prevenir, no futuro, o câncer de pênis, infecções penianas (como a balanite) e sexualmente transmissíveis (ISTs), e no presente, infecções do trato urinário. Já quando estimula a intervenção precoce para tratar a criptorquidia, previne o câncer de testículo e problemas na produção de espermatozoides. Um outro problema relativamente comum mas pouco conhecido, a hidronefrose antenatal (dilatação dos rins diagnosticada na gravidez, durante os ultrassons obstétricos), também precisa ser tratado na mais tenra infância. “Se negligenciado ou não tratado adequadamente após o nascimento, a doença pode se agravar por meio de infecções urinárias e perda da função renal”, destacou o urologista pediátrico Leonardo Calazans.

Segundo o médico, desde os primeiros anos da vida de um menino ele precisa ser avaliado por um urologista, mas infelizmente, alguns problemas urológicos em crianças ou adolescentes não são tratados como deveriam por desinformação dos pais que, equivocadamente, acreditam que isso é coisa de adulto ou idoso. “Quando as meninas entram na puberdade, uma primeira visita ao ginecologista é comum, inclusive para esclarecer dúvidas sobre a sexualidade, mas raramente os adolescentes do sexo masculino se consultam com um urologista. Avaliar os órgãos genitais nesta fase é importante assim como acompanhar o desenvolvimento das características sexuais masculinas secundárias, como o aumento da massa muscular e dos testículos, crescimento de pelos no corpo e no rosto, mudanças no timbre da voz, pomo-de-adão e surgimento da acne”, destacou o preceptor de urologia das Obras Sociais Irmã Dulce (Salvador) e do Hospital Estadual da Criança (Feira de Santana).

Criptorquidia – Testículos que permanecem no abdômen ou na virilha em vez de descerem para o escroto caracterizam a chamada criptorquidia, que raramente causa sintomas. Quando permanecem no abdômen, porém, podem gerar torsão testicular e dor intensa. Além disso, se não tratada na infância, a doença pode prejudicar a produção de espermatozoides e/ou aumentar o risco de desenvolvimento do câncer testicular no futuro. Quando ocorre dos dois testículos, as chances de paternidade são comprovadamente reduzidas. Além disso, “pacientes com criptorquidia têm 2,2 vezes mais chances de desenvolver um tumor de testículo do que uma criança normal. Caso seja tratado tardiamente (após os 14 anos), este número pode chegar a 5 ou 6 vezes. E se o problema não for tratado até a vida adulta, o risco de desenvolvimento de um câncer de testículo aumenta até 40 vezes”, elencou Leonardo Calazans. 

O médico disse, ainda, que dois terços dos casos de testículos retidos descem espontaneamente até os quatro meses de idade em bebês. A cirurgia só é necessária se o testículo não descer “sozinho”. Dependendo da localização do testículo, ele pode ser trazido para dentro do escroto por meio de um procedimento cirúrgico convencional (incisão aberta) ou por meio de laparoscopia (procedimento no qual o médico pode ver dentro da cavidade abdominal através de um endoscópio). “A cirurgia robótica, minimamente invasiva, pode ser uma opção vantajosa”, frisou o especialista, que também é diretor do núcleo de urologia do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR).

Fimose – Outro problema muito comum na infância, a fimose é a incapacidade de retrair o prepúcio que dificulta ou impossibilita a exposição da glande (cabeça do pênis). Geralmente, quase todos os recém-nascidos apresentam a fimose primária ou fisiológica que se resolve espontaneamente em mais de 90% dos meninos nos primeiros três anos de vida. A fimose pode ainda ser consequência de inflamações, infecções como a balanite, deformidades causadas por traumas e/ou doenças dos órgãos genitais. A condição, geralmente, é indolor, mas pode dificultar a higiene e provocar alguns sintomas como vermelhidão e inchaço. Um prepúcio muito apertado também pode provocar incômodos durante a micção. Outros sintomas são secreções com mal cheiro no pênis, sangramento, dor durante a ereção e dificuldade de controlar a vontade de urinar à noite. 

Nas crianças em que a fimose persiste após os três anos de idade, uma intervenção se faz necessária, para evitar infecções, câncer de pênis e ISTs no futuro. “As opções terapêuticas na abordagem da fimose patológica congênita são o tratamento clínico com corticosteroides tópicos (pomadas) ou cirurgia (postectomia, mais conhecida como circuncisão)”, resumiu Calazans. O procedimento dura cerca de uma hora, com aplicação de anestesia, e é recomendada para crianças entre sete e 10 anos. O paciente pode voltar à rotina três ou quatro dias depois do procedimento.

Infecções urinárias – A infecção urinária pode atingir diferentes órgãos do trato urinário (uretra, rins, ureteres e bexiga). Os sintomas mais comuns são incontinência urinária, ardor ao urinar e odor forte. Nas crianças, porém, os sintomas podem se apresentar de forma diferente. Os responsáveis precisam estar atentos a febre sem causa aparente, perda de apetite, vômitos, dor abdominal ou lombar, diarréia ou constipação grave (superior a cinco dias) e irritabilidade. Até os três meses de vida, os meninos são mais suscetíveis a ter infecções urinárias do que as meninas porque eles nascem com a cabeça do pênis coberta por uma pele, que pode ajudar na proliferação de microrganismos. Porém, após esse período, os casos de infecção em meninas passam a ser mais numerosos porque a uretra, em meninas e mulheres, é mais curta, o que diminui o “caminho” que a bactéria percorre até chegar à bexiga e aos rins.

“Em bebês, a necessidade do uso de fraldas deixa os órgãos expostos às fezes e cria um ambiente propício para a proliferação de bactérias. Já na fase do desfralde, a criança ainda está estabelecendo uma rotina de idas ao banheiro, o que pode fazer com que ela passe muito tempo segurando xixi. Meninos maiores precisam ser bem orientados quanto à correta forma de higienização do pênis, para evitar infecções urinárias”, pontuou Leonardo Calazans. O tratamento é feito com antibióticos específicos.

Distúrbios miccionais e enurese – Enurese é a eliminação involuntária de urina durante o sono em crianças com idade igual ou superior a cinco anos. Ocorre em 5% a 10% das crianças com menos de dez anos de idade e é mais comum em meninos. Sono muito profundo, produção excessiva de urina pelos rins durante a noite e bexiga muito reativa são causas de enurese primária (quando a criança nunca conseguiu controle noturno da urina por mais de seis meses). Estresse, nascimento de um irmão, divórcio dos pais, dificuldades escolares ou familiares podem desencadear a enurese secundária (quando já controlou a urina por pelo menos seis meses consecutivos e voltou a perder urina à noite). Outras doenças gerais ou do trato urinário podem também induzir enurese secundária ou ainda agravar a enurese primária. Algumas orientações gerais podem ser úteis no controle da enurese. Tratamentos mais ativos são recomendados quando o problema persiste após os seis ou sete anos, especialmente quando sintomas de baixa autoestima estão presentes. 

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