Saúde

Cinco fatos sobre resistência bacteriana aos antibióticos e cimo evitá-la

A resistência bacteriana aos antibióticos é um problema crescente, presente em todos os países e que vem sendo discutido mundialmente. Para 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou o tema como a 5º ameaça à saúde global[1].

Os antibióticos são substâncias capazes de matar bactérias – microrganismos que causam infecções. Algumas dessas infecções são graves e podem levar à morte. Antes dos antibióticos, algumas infecções, como a meningite bacteriana e a pneumonia bacteriana tinham altas taxas de mortalidade, que foram reduzidas consideravelmente.

A penicilina, considerada o primeiro antibiótico da história, foi descoberta por Alexander Fleming em 1928 e causou uma verdadeira revolução na medicina.
Entretanto, por volta da década de 1950, a resistência à penicilina tornou-se um problema clínico substancial[2].

Atualmente, o problema atingiu repercussão global pois os novos mecanismos de resistência emergentes ameaçam a eficiência do tratamento de infecções comuns, resultando em estado enfermo prolongado, incapacidade e morte. Sem antibióticos eficazes a prevenção e tratamento de procedimentos médicos como transplante de órgãos, quimioterapia, manejo do diabetes e cirurgias mais complexas (cesarianas ou correção de fratura de fêmur) se tornam de alto risco[3]

No Brasil, de acordo com dados da Anvisa, cerca de 25% das infecções registradas são causadas por micro-organismos multirresistentes[4] – aqueles que se tornam imunes à ação dos antibióticos. O surgimento de ‘superbactérias’ é um fenômeno associado a vários fatores, incluindo o uso indiscriminado deste tipo de medicamento. Por isso, preparamos um guia com cinco fatos importantes sobre resistência bacteriana. Confira!

1 – O que é resistência bacteriana aos antibióticos?

A resistência bacteriana é um fenômeno de evolução natural, que ocorre quando as bactérias passam por mutações e tornam-se resistentes aos medicamentos usados ​​para tratar as infecções[5]. Como resultado, os tratamentos padrão tornam-se ineficazes, as infecções persistem e podem se espalhar para outras pessoas[6].

Em 2016 um relatório financiado pelo Ministério da Saúde da Inglaterra revelou que sem o devido controle da resistência, em 2050, as infecções bacterianas serão responsáveis por 10 milhões de mortes no mundo, anualmente, número maior que a estimativa de mortalidade por câncer para o mesmo ano, cerca de 8,2 milhões mortes ao ano[7].

2 – O que causa a resistência bacteriana?

O uso de antibióticos, por mais apropriado e conservador que seja, contribui para o desenvolvimento da resistência, mas o uso desnecessário e excessivo torna-o pior.

A administração correta de antibióticos eficazes somado a um programa abrangente de controle das infecções tem mostrado limitar a ocorrência e a transmissão de bactérias resistentes a antibióticos. No Brasil, algumas ações já foram tomadas para tentar enfrentar o problema: antibióticos só podem ser vendidos mediante receita médica especial, em duas vias, justamente para combater seu uso inadequado. Ao reter uma via da receita a proposta é evitar a automedicação e o uso desnecessário de medicamento.  Contudo, essas medidas, se isoladas, não são suficientes para evitar o desenvolvimento de bactérias multirresistentes.

Desde 2013, está em andamento no país o Projeto Antimicrobial Stewardship, da MSD, que ajuda as instituições a implantarem um sistema eficiente para lidar com infecções e uso consciente de antibióticos. Cada hospital tem um padrão específico de bactérias mais frequentes. Mapeando essa chamada microbiota, a instituição estabelece um protocolo de priorização de uso de antibióticos com ação específica para as bactérias locais, proporcionando uma escolha mais assertiva e direcionada do medicamento, minimizando o uso desnecessário ou excessivo, resultando em redução de internação (em número e dias de estadia) de custo, e de desenvolvimento de bactérias resistentes.

3 – Como a resistência aos antibióticos se espalha?

Bactérias, não seres humanos ou animais, tornam-se resistentes aos antibióticos[8]. O uso indiscriminado dos antibióticos por instituições de saúde, pela população, em práticas agropecuárias e na agricultura é um fator que contribui para a disseminação da resistência aos antibióticos. Portanto, o uso adequado deve fazer parte da rotina dos produtores, da comunidade e dos profissionais de saúde e hospitais[9].

Medidas podem ser tomadas em todos os níveis da sociedade para reduzir o impacto e limitar a propagação da resistência.

A sociedade em geral pode ajudar:

  • Prevenindo infecções, lavando as mãos regularmente, praticando uma boa higiene alimentar, evitando contato próximo às pessoas doentes e mantendo as vacinações atualizadas.
  • Utilizando antibióticos apenas quando indicado e prescrito por um profissional de saúde.
  • Seguindo a prescrição à risca.
  • Evitando reutilizar antibióticos de tratamentos prévios que estejam disponíveis em domicílio, sem adequada avaliação de profissional de saúde.
  • Não compartilhando antibióticos com outras pessoas.

Profissionais de saúde podem ajudar:

  • Prevenindo infecções ao garantir que as mãos, os instrumentos e o ambiente estejam limpos.
  • Mantendo a vacinação dos pacientes em dia.
  • Quando uma infecção bacteriana é suspeita, sempre que possível, realizar culturas e testes bacterianos para confirmá-la.
  • Prescrevendo e dispensando antibióticos apenas quando eles realmente forem necessários.
  • Prescrevendo e dispensando o antibiótico adequados, assim como sua posologia e período de utilização.  

Os gestores em saúde podem ajudar:

  • Implantando um robusto plano de ação nacional para combater a resistência aos antibióticos.
  • Aprimorando a vigilância às infecções resistentes aos antibióticos.
  • Reforçando as medidas de controle e prevenção de infecções.
  • Regulamentando e promovendo o uso adequado de medicamentos de qualidade.
  • Tornando acessíveis as informações sobre o impacto da resistência aos antibióticos.
  • Incentivando o desenvolvimento de novas opções de tratamento, vacinas e diagnóstico.  

O setor agrícola pode ajudar:

  • Garantindo que os antibióticos dados aos animais – incluindo os produtores de alimentos e os de companhia – sejam utilizados apenas no tratamento, e não na prevenção, de doenças infecciosas e sob supervisão de um médico veterinário.
  • Vacinando os animais para reduzir a necessidade do uso de antibióticos e desenvolvendo alternativas ao uso de antibióticos em plantações.
  • Promovendo e aplicando boas práticas em todos os passos de produção e processamento de alimentos de origem animal e vegetal.
  • Adotando sistemas sustentáveis com uma melhor higiene, biossegurança e manejo dos animais livre de estresse.
  • Implementando normas internacionais para o uso responsável de antibióticos estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde Animal, FAO e OMS.  

A indústria da saúde pode ajudar:

  • Investindo em novos antibióticos, vacinas e diagnósticos[10].

4 – A qualidade dos medicamentos influencia no mecanismo de resistência?

Sim. Medicamentos de baixa qualidade, podem causar uma concentração inadequada de antibiótico no sangue favorecendo o desenvolvimento de resistência pelas bactérias. Além disso em países onde o acesso da população aos antibióticos é ineficaz, faz com que os tratamentos sejam incompletos ou até mesmo a busca por alternativas não padronizadas, que também contribui para o surgimento das superbactérias.

5             Há novos antibióticos sendo desenvolvidos para contribuir na luta contra a resistência bacteriana?


Algumas companhias farmacêuticas estão enfrentando o desafio de desenvolver novos medicamentos eficazes no tratamento das bactérias multiresistentes. Um exemplo dessa movimentação é o investimento da MSD no desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas para combater doenças infecciosas. Desde o ano passado, a empresa disponibiliza um antibiótico que une de forma inédita os princípios ativos ceftolozana e tazobactam. O produto é indicado para tratar infecções intra-abdominais e das vias urinárias complicadas.

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