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Tabagismo é principal fator de risco para câncer de pulmão no Brasil

Embora o tabagismo esteja relacionado a 85% dos casos de câncer de pulmão, conforme amplamente divulgado durante o ‘Agosto Branco’, mês de prevenção e combate a esta doença, ela nem sempre é causada pelo cigarro. Há menos de três meses, a aposentada Enói Sousa Rêgo (74) sentiu falta de ar e buscou assistência médica. Suspeitava de coronavírus ou outras doenças, pois por nunca ter sido fumante, nem lhe passava pela cabeça que poderia ser câncer de pulmão. Após os exames que confirmaram o diagnóstico, ela se submeteu a uma cirurgia robótica para retirada da parte do órgão afetada pelo tumor. “Felizmente, minha recuperação foi rápida e tranquila. Estou bem e pretendo continuar assim”, relatou.

Além de promover uma recuperação mais rápida, com menor risco de complicações e menos dor no pós-operatório, a cirurgia robótica para tratamento do câncer de pulmão facilita a retirada dos linfonodos pulmonares, trazendo melhorias quando comparada ao procedimento por vídeo ou à cirurgia aberta (convencional), outras modalidades de tratamento. Segundo o cirurgião torácico Pedro Leite, integrante do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), os linfonodos são gânglios linfáticos que funcionam como um filtro de células do tumor que podem se espalhar pelo corpo. “Sua retirada é fundamental para definir o grau de extensão da doença, interferindo diretamente no tratamento e na chance de cura do paciente”, explicou. 

A cirurgia robô assistida, realizada através de pequenos orifícios na parede torácica, utiliza instrumentos delicados e é feita com auxílio de uma câmera de vídeo. A plataforma utilizada proporciona ao cirurgião uma visão mais ampliada e em três dimensões (3D). Os movimentos das pinças são amplos e precisos, diferenciais que tornam a cirurgia segura e eficiente, pois melhoram os resultados cirúrgicos e reduzem o período de internação hospitalar e a dor. “A aplicação da tecnologia robótica no campo das cirurgias torácicas também agrega benefícios ao tratamento de tumores do mediastino (espaço localizado atrás do osso esterno, entre os dois pulmões), miastenia gravis (doença autoimune em que a comunicação entre os nervos e os músculos é afetada, produzindo episódios de fraqueza muscular) e doenças do diafragma (músculo da respiração)”, acrescentou o médico.

Sobre o tumor – O câncer de pulmão é o segundo mais comum em homens e mulheres no Brasil (sem contar o câncer de pele não melanoma). O tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são importantes fatores de risco para o desenvolvimento da doença, mas poluição do ar, história familiar de câncer de pulmão, exposição a carcinógenos (como amianto, radiação e radônio) e uso exclusivo de fogueiras para cozinhar e aquecer ampliam as chances de desenvolvimento desse tipo de tumor. Comumente, o câncer de pulmão não causa sintomas em suas fases iniciais, tornando difícil o diagnóstico precoce. Contudo, quando o tumor cresce e começa a invadir estruturas adjacentes, podem aparecer sintomas como tosse, escarro com sangue, dor torácica, falta de ar, rouquidão e perda de peso. 

O tratamento depende da fase em que se encontra o tumor, ou seja, do estadiamento, verificado através do exame de imagem PET-Scan (para detectar metástases em outros órgãos) e ressonância magnética. Nas fases iniciais, o tratamento indicado é a cirurgia, sendo em alguns casos necessária a complementação com quimioterapia. A extensão da cirurgia depende principalmente da localização, do tamanho da lesão e das condições clínicas do paciente.

Ainda de acordo com o especialista em cirurgia torácica robótica, Pedro Leite, tradicionalmente, a cirurgia era realizada através da abertura da cavidade torácica (toracotomia), ou seja, uma incisão na parede lateral do tórax de cerca de 12 a 15 cm, seguida de afastamento das costelas. “Atualmente, os avanços tecnológicos nos permitem realizar a remoção do lobo inteiro do pulmão que contém o tumor (lobectomia) de forma minimamente invasiva, através da cirurgia vídeo-assistida ou robótica, sendo esta última a nossa técnica preferencial”, explicou o integrante do IBCR.

Apesar dos grandes avanços no tratamento do câncer de pulmão nos últimos anos, apenas uma pequena parcela dos pacientes é submetida à terapia com intuito curativo. No Brasil, esse tipo de tumor geralmente é diagnosticado em estágios avançados e apresenta baixas taxas de sobrevida. A legislação antitabagismo e as campanhas educativas, principalmente com foco na população mais jovem, são fundamentais para a prevenção da doença. Além disso, “o rastreamento do câncer de pulmão em pacientes com fatores de risco precisa ser feito anualmente através de tomografia de tórax, para detecção precoce do tumor. Quanto antes o tratamento for iniciado, maiores são as chances de cura”, concluiu o cirurgião.

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